Adoraria usar esse aparato alguns dias no trabalho para não respirar certos ares.
Trabalho com uma pessoa que desempenha o mesmo cargo de liderança que eu na empresa onde trabalhamos. Ela é responsável por um setor, eu por outro e uma precisa da outra para que o trabalho dê certo. Como ela é responsável pela parte financeira, acaba tendo algumas atribuições bem bananosas e uma pressão maior por causa do dinheiro. Entretanto, eu sou a pessoa que atende as pessoas (que geralmente chegam no meu setor estressadas e lá vou eu resolver as coisas da forma mais amistosa possível) e estou dando minha cara a tapa, ou seja, tem pressão pro meu lado também. Então, no fim das contas, para o trabalho dar certo os dois setores tem que estar bem sintonizados.
Acontece que essa minha colega, como posso dizer sem parecer grosseira?, morre de inveja de mim. Ela já passou dos 40, se acomodou com a faculdade de Letras que fez e a única ambição dela é ficar de bem com o patrão. Ok, isso pode ter soado grosseiro, mas é a mais pura e simples realidade. Ela inveja o fato de eu ser mais nova e mais qualificada, ter mais inteligência emocional que ela (tenho facilidade em mediar conflitos e, apesar de não ser a melhor líder, consigo manter minha equipe mais unida e trabalhando bem por eles seguirem meus exemplos ao invés de ficar botando medo neles) e de, maneira geral, ser mais bem sucedida na vida como um todo - e ela não.
O que eu vejo como ser bem sucedida? É separar, na medida do possível, o trabalho da vida fora dele, ter qualidade de vida, entendendo que minha vida não se resume só ao trampo, é continuar estudando, ter equilíbrio financeiro, emocional e uma boa saúde. Quase nada disso é alcançado pela Fulana (vou chamá-la assim).
Fulana é divorciada sem filhos e mora sozinha de aluguel. Diz ela que sua mãe morre de vontade que ela more em sua casa, já que a casa é própria e ela poderia poupar o dinheiro que ela gasta no aluguel para investir e comprar seu próprio cantinho, mas ela prefere morar sozinha mesmo. Trabalha bem mais do que as 44h semanais (nossa empresa não paga hora extra, dá banco de hora, coisa que é um custo ter), está com a coluna comprometida, colesterol alto e está sempre em crises alérgicas (de tudo isso ela sempre está a reclamar). Com uma vidinha asim, dá para imaginar a amargura e a forma tirânica com a qual ela trata seus subordinados: chamando atenção na frente dos clientes, acusando antes de verificar as condições primeiro, mandando e desmandando como se seus subordinados fosse morrer de fome caso pedissem demissão.
Ela morreu de inveja de mim quando tirei 20 dias de férias em janeiro, porque queria ter tirado nesse mês. De raiva, ficou fofocando pra patroa sobre coisas que eu tinha "deixado em aberto". Como resultado, houve dias que a patroa me ligava bolada e lá ia eu explicar pacientemente o que acontecia... E assim ela tenta azedar meu trabalho. Mandando mais, expondo qualquer deslize dos meus subordinados, tratando os outros mal... Quem a vê na empresa acha que ela ganha mais do que eu de tanto que ela está sempre mandando em todo mundo. Isso é um demonstrativo de caráter: você dá um pouco de poder (pouquinho mesmo porque pro patrão somos merda, seja lá qual for a hierarquia) pra pessoa e ela se acha Deus. Só que as pessoas que agem assim não parecem entender que no dia que se desligar da empresa não fez network e não tem pessoas que poderiam indicá-las para outro emprego. Pessoas assim criam inimigos de graça. Vestem tanto a camisa da companhia que abrem mão da vida pessoal, do equilíbrio, do amor próprio e viram pessoas amargas, invejosas, estúpidas.
Esses dias, uma subordinada minha me mostrou uma postagem no Facebook de uma antiga funcionária da empresa que foi subordinada da Fulana. No post, ela dizia que estava muito feliz consigo mesma por ter seguido seus sonhos porque, de acordo com ela, foi muito humilhada na empresa X (ela escreveu o nome da nossa empresa) pela Fulana (sim, ela escreveu o nome da mulher), que um dia a Fulana pegou um caderno no qual ela escrevia seus planos e seu orçamento e ficou rindo dos erros de português na frente de outros funcionários. Sim, isso realmente aconteceu, eu estava lá e fiquei besta com a falta de profissionalismo da chefe dela. Ainda nessa semana, uma chave de uma sala sumiu e a Fulana ao invés de puxar na câmera para ver o que poderia ter ocorrido forçou a barra para a senhora da limpeza tirar do próprio bolso o dinheiro da cópia da chave. No fim das contas, uma outra funcionária havia pego sem querer e no dia seguinte devolveu a chave e fez questão de ressarcir a zeladora. Eu, como não tenho acesso ao sistema de câmeras, fiz o óbvio: perguntei se a pessoa X que tinha estado pela última vez havia visto a chave, ao que ela confirmou. Conversamos e tudo se resolveu sem alardes. Só que quem tem a síndrome do micro poder precisa expor os outros, precisa esbravejar, meter medo nas pessoas.
É muito ruim ter que trabalhar com uma pessoa assim. Só que dá para tirar proveito dessa situação: tenho desenvolvido cada vez mais inteligência emocional, trabalhado a empatia e exercendo tolerância. Como a pessoa tóxica com quem trabalho puxa o saco do patrão, não valeria a pena eu chegar até ele e pontuar. Na verdade, nem devo porque meu patrão não liga pra empresa. É um erro de estrutura da companhia que vem de cima pra baixo, sabe? Respiro fundo, faço o meu trabalho e bola pra frente. Tem dias que são bem difíceis, mas eu tenho facilidade em separar as coisas e vivo o máximo minha vida pessoal sem arrastar coisas de trabalho pra ela. E eu não deixo de me atualizar, estudar e fazer as coisas que gosto por causa do trabalho. Não é nem recomendável isso. E Fulana tem implicância comigo porque ainda muito jovem eu aprendi algo que ela só aprendeu depois de muito tempo e agora ela não tem disposição para correr atrás porque o caminho mais fácil pra ela é odiar, invejar. Nem raiva eu sinto (ocasionalmente, vai, eu não sou de ferro), mas tenho pena. Pena de alguém que deixou a vida passar, que tem como objetivo de vida exercer seu micro poder numa empresa de médio porte e que lá no fundo sabe disso e é infeliz. Deve ser horrível dormir pensando nessas coisas. Deve ser horrível ser ela.