sábado, 1 de abril de 2017

Pessoas Tóxicas

Adoraria usar esse aparato alguns dias no trabalho para não respirar certos ares.

Trabalho com uma pessoa que desempenha o mesmo cargo de liderança que eu na empresa onde trabalhamos. Ela é responsável por um setor, eu por outro e uma precisa da outra para que o trabalho dê certo. Como ela é responsável pela parte financeira, acaba tendo algumas atribuições bem bananosas e uma pressão maior por causa do dinheiro. Entretanto, eu sou a pessoa que atende as pessoas (que geralmente chegam no meu setor estressadas e lá vou eu resolver as coisas da forma mais amistosa possível) e estou dando minha cara a tapa, ou seja, tem pressão pro meu lado também. Então, no fim das contas, para o trabalho dar certo os dois setores tem que estar bem sintonizados.

Acontece que essa minha colega, como posso dizer sem parecer grosseira?, morre de inveja de mim. Ela já passou dos 40, se acomodou com a faculdade de Letras que fez e a única ambição dela é ficar de bem com o patrão. Ok, isso pode ter soado grosseiro, mas é a mais pura e simples realidade. Ela inveja o fato de eu ser mais nova e mais qualificada, ter mais inteligência emocional que ela (tenho facilidade em mediar conflitos e, apesar de não ser a melhor líder, consigo manter minha equipe mais unida e trabalhando bem por eles seguirem meus exemplos ao invés de ficar botando medo neles) e de, maneira geral, ser mais bem sucedida na vida como um todo - e ela não.

O que eu vejo como ser bem sucedida? É separar, na medida do possível, o trabalho da vida fora dele, ter qualidade de vida, entendendo que minha vida não se resume só ao trampo, é continuar estudando, ter equilíbrio financeiro, emocional e uma boa saúde. Quase nada disso é alcançado pela Fulana (vou chamá-la assim).

Fulana é divorciada sem filhos e mora sozinha de aluguel. Diz ela que sua mãe morre de vontade que ela more em sua casa, já que a casa é própria e ela poderia poupar o dinheiro que ela gasta no aluguel para investir e comprar seu próprio cantinho, mas ela prefere morar sozinha mesmo. Trabalha bem mais do que as 44h semanais (nossa empresa não paga hora extra, dá banco de hora, coisa que é um custo ter), está com a coluna comprometida, colesterol alto e está sempre em crises alérgicas (de tudo isso ela sempre está a reclamar). Com uma vidinha asim, dá para imaginar a amargura e a forma tirânica com a qual ela trata seus subordinados: chamando atenção na frente dos clientes, acusando antes de verificar as condições primeiro, mandando e desmandando como se seus subordinados fosse morrer de fome caso pedissem demissão.

Ela morreu de inveja de mim quando tirei 20 dias de férias em janeiro, porque queria ter tirado nesse mês. De raiva, ficou fofocando pra patroa sobre coisas que eu tinha "deixado em aberto". Como resultado, houve dias que a patroa me ligava bolada e lá ia eu explicar pacientemente o que acontecia... E assim ela tenta azedar meu trabalho. Mandando mais, expondo qualquer deslize dos meus subordinados, tratando os outros mal... Quem a vê na empresa acha que ela ganha mais do que eu de tanto que ela está sempre mandando em todo mundo. Isso é um demonstrativo de caráter: você dá um pouco de poder (pouquinho mesmo porque pro patrão somos merda, seja lá qual for a hierarquia) pra pessoa e ela se acha Deus. Só que as pessoas que agem assim não parecem entender que no dia que se desligar da empresa não fez network e não tem pessoas que poderiam indicá-las para outro emprego. Pessoas assim criam inimigos de graça. Vestem tanto a camisa da companhia que abrem mão da vida pessoal, do equilíbrio, do amor próprio e viram pessoas amargas, invejosas, estúpidas.

Esses dias, uma subordinada minha me mostrou uma postagem no Facebook de uma antiga funcionária da empresa que foi subordinada da Fulana. No post, ela dizia que estava muito feliz consigo mesma por ter seguido seus sonhos porque, de acordo com ela, foi muito humilhada na empresa X (ela escreveu o nome da nossa empresa) pela Fulana (sim, ela escreveu o nome da mulher), que um dia a Fulana pegou um caderno no qual ela escrevia seus planos e seu orçamento e ficou rindo dos erros de português na frente de outros funcionários. Sim, isso realmente aconteceu, eu estava lá e fiquei besta com a falta de profissionalismo da chefe dela. Ainda nessa semana, uma chave de uma sala sumiu e a Fulana ao invés de puxar na câmera para ver o que poderia ter ocorrido forçou a barra para a senhora da limpeza tirar do próprio bolso o dinheiro da cópia da chave. No fim das contas, uma outra funcionária havia pego sem querer e no dia seguinte devolveu a chave e fez questão de ressarcir a zeladora. Eu, como não tenho acesso ao sistema de câmeras, fiz o óbvio: perguntei se a pessoa X que tinha estado pela última vez havia visto a chave, ao que ela confirmou. Conversamos e tudo se resolveu sem alardes. Só que quem tem a síndrome do micro poder precisa expor os outros, precisa esbravejar, meter medo nas pessoas. 

É muito ruim ter que trabalhar com uma pessoa assim. Só que dá para tirar proveito dessa situação: tenho desenvolvido cada vez mais inteligência emocional, trabalhado a empatia e exercendo tolerância. Como a pessoa tóxica com quem trabalho puxa o saco do patrão, não valeria a pena eu chegar até ele e pontuar. Na verdade, nem devo porque meu patrão não liga pra empresa. É um erro de estrutura da companhia que vem de cima pra baixo, sabe? Respiro fundo, faço o meu trabalho e bola pra frente. Tem dias que são bem difíceis, mas eu tenho facilidade em separar as coisas e vivo o máximo minha vida pessoal sem arrastar coisas de trabalho pra ela. E eu não deixo de me atualizar, estudar e fazer as coisas que gosto por causa do trabalho. Não é nem recomendável isso. E Fulana tem implicância comigo porque ainda muito jovem eu aprendi algo que ela só aprendeu depois de muito tempo e agora ela não tem disposição para correr atrás porque o caminho mais fácil pra ela é odiar, invejar. Nem raiva eu sinto (ocasionalmente, vai, eu não sou de ferro), mas tenho pena. Pena de alguém que deixou a vida passar, que tem como objetivo de vida exercer seu micro poder numa empresa de médio porte e que lá no fundo sabe disso e é infeliz. Deve ser horrível dormir pensando nessas coisas. Deve ser horrível ser ela.

11 comentários:

  1. Tá na hora de resolver com ela. Ou você se alia a ela, ou destrói a vida dela.
    Abraços

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    1. Olá, Einstein!

      "Aliar" é uma palavra muito pesada. A gente lida uma com a outra no que tange o trabalho mesmo e os protocolares "bom dia/tarde/noite". E é o que temos pra hoje.

      Um abraço :)

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  2. Esse post é denso de informação.
    Já trabalhei com uma pessoa tóxica e trabalho com uma semi-tóxica.
    Trabalhar com pessoas assim ou em ambientes tóxicos comprometem o bom humor e a motivação de qualquer um. Mas além da história de vida da pessoa, isso tudo tem muito haver com personalidade mesmo. Não é a idade, estado civil, aparência ou condição financeira que determina a toxidade de uma pessoa. Tem pessoas com perfil parecido com a mulher que você descreveu que não se comportam dessa maneira.
    Os problemas e desilusões da vida podem sim fazer com que a pessoa fique mais negativa, mas tem muitos casos que o que falta mesmo é maturidade ou vergonha na cara.
    Esse negócio de vestir camisa da empresa deve ser encarado com muito equilíbrio também, temos que ter bem claro em nossas mentes que se a empresa não é nossa cedo ou tarde sairemos de lá, e mesmo que venhamos a ter uma empresa um dia ela fechará (o que é natural).
    Mesmo assim presenciamos pessoas adultas, pais de família etc puxando o saco de patrões, líderes etc. Comportando-se de forma ridícula, querendo mostrar o que não é ou não tem, contando vantagens, omitindo problemas e responsabilizando os outros.
    Esses podem não ser indivíduos tóxicos, mas que em alguns momentos são babacas, isso são.
    Quanto a você, tente fazer o seu trabalho e veja até onde vai a implicância da sua colega, caso a situação seja insustentável procure pensar em outras opções emprego. O que talvez nem seja necessário porque com o tempo mita coisa se ajeita.

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    1. Olá, Anon!

      É uma luta diária e o pior é que a mulher é meio bipolar, tem dias que tá um anjo (quando precisa que eu faça algo fora das minhas atribuições, por exemplo).

      Eu, quando sair desse emprego, estarei pós graduada e gestão de stress, na boa.

      Obrigada por participar, um abraço :)

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  3. Você não deve ficar falando essas coisas por aqui. Se alguém pegar raiva de vc vai te entregar pra qualquer um. Já ferraram com blogueiros fakes, imagina então o que podem fazer com uma pessoa que bota a cara!

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    1. Olá, Anon!

      Não estou expondo nomes nem coisas do tipo. É um risco, mas a vida é risco mesmo.

      Obrigada pela preocupação, um abraço!

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  4. "(...) Deve ser horrível ser ela."
    Penso dessa maneira tbm quando encontro pessoas amarguradas igual sua colega de trabalho.
    Coloque ela sempre como espelho, o padrão de comportamento que nunca deve ter
    No ambiente de trabalho, nunca convivi com pessoas assim
    Mas na faculdade, existiam mtos assim

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    1. Olá, Coala.

      Exatamente, ela é um exemplo que eu não quero seguir. Às vezes a vida bota gente escrota no nosso caminho pra nos ensinar algumas coisas, não é mesmo?

      Um abraço!

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  5. Oi Jacque, mulher no trabalho vê outra mulher como inimiga, incrível isso !!! Já vi muito isso nas empresas que passei, a maioria das vezes tem mulheres no meio.

    O que o anon ai em cima disse é verdade, como você usa seu nome e bota sua cara aqui, tome cuidado, o pessoal costuma investigar a vida das pessoas !!

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    1. Olá, Stifler.

      Então, no nível tático sim, mas no operacional não. A maior parte dos nossos subordinados é composta por mulheres e não rola esse clima. O problema é na esfera superior, aí é um climão mesmo. Sendo que já houve homens nos cargos que ocupamos (em outras unidades) e , verdade seja dita, não desempenharam nada bem o cargo que assumiram.

      Quanto às investigações, não sou suficientemente relevante :)

      Um abraço!

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  6. Incrível. Com leves adaptações, esse texto serviria fielmente para um colega de trabalho. E, como bem falou, "tenho desenvolvido cada vez mais inteligência emocional, trabalhado a empatia e exercendo tolerância".

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Não fale com os outros o que não gostaria que falassem com sua mãe.